Quem é o primeiro brasileiro campeão da NBA
Marcos Peres
Tiago Splitter é o primeiro jogador de basquete proveniente do Brasil a ser campeão da NBA, 26 anos depois do pivô Rolando ter arremessado a primeira bola de um brasileiro em uma cesta da liga profissional dos Estados Unidos, em 1988. Foi com a bandeira do Brasil nas costas que Splitter, de 29 anos, levantou o troféu Larry O’Brien.
Splitter teve a coragem de mudar-se para a Espanha aos 15 anos de idade, justamente porque sonhava tornar-se o jogador que hoje é. Um jogador capaz de encaixar-se e tornar-se peça indispensável da engrenagem mais azeitada do basquete mundial na atualidade, o melhor time do planeta, o San Antonio Spurs. A equipe do técnico Gregg Popovic rabisca na quadra com perfeição os movimentos táticos desenhados na prancheta do treinador.
O Spurs não tem um super ala, como LeBron James ou Kevin Durant. Eles não se encaixariam no esquema do técnico “Pop”. Ninguém que quebre a rotação se encaixaria. Foi assim que o ala-pivô Tim Duncan se fez uma lenda. Aos 38 anos, ajudou e se deixou ajudar por Splitter para conquistar o quinto título da NBA da carreira, o quinto do San Antonio Spurs, campeão em 1999, 2003, 2005, 2007 e 2014.
Tiago Splitter é craque na arte de jogar para o time. Ágil e eficiente na defesa. Um dos melhores passadores e “ladrões” de bola entre os pivôs da NBA, e, nesse ano, fez também a diferença pontuando em jogos complicados, como na primeira partida da final contra Miami, com 14 pontos em apenas 23 minutos.
O basquete é um esporte no qual todos os jogadores participam de cada ação do time, seja ofensiva ou defensiva. E, na partida desse domingo, o Spurs foi taticamente tão eficiente, que parecia ter um atleta a mais em quadra, atacando ou defendendo. Splitter jogou 59 partidas na temporada 2013-2014, a maioria delas como titular, atuando, em média, mais de 21 minutos por partida, anulando, por exemplo o craque alemão Dirk Nowitzi, do Dallas Mavericks, no início dos playoffs.
Splitter não esteve cotado para o jogo das estrelas. Nem faz questão de ser uma estrela. Não precisou disso quando, em 2010, foi campeão da Espanha pelo Baskonia, conquistando um feito raro. Ganhou, no mesmo ano, os prêmios de melhor jogador da temporada regular do forte campeonato espanhol e, mais tarde, também o de melhor jogador das finais.
Gregg Popovich, treinador do Spurs desde 1996, sabia muito bem disso ao decidir renovar o contrato de Tiago enquanto o brasileiro ainda se adaptava ao esquema insanamente metódico e incansavelamente ensaiado implantado por ele. Popovich dividiu o tempo de quadra de Splitter com o ótimo pivô francês Boris Diaw, talvez um pouco mais versátil, mas menos tático do que o brasileiro.
Splitter, de 2,11m de altura não é apenas um homem grande, mas um grande homem. Serviu a seleção quando outros jogadores não queriam, não podiam, serviu a seleção brasileira quando estava contundido. E quando não o fez, na última Copa América, foi porque estava sem contrato com a NBA. Qualquer contusão e ele talvez não fosse hoje o primeiro brasileiro campeão da liga mais espetacular do mundo em qualquer esporte.
O San Antonio Spurs foi o primeiro campeão da NBA depois da era Michael Jordan no Chicago Bulls. No título de 1999, o ala-pivô Tim Duncan, então com 22 anos de idade, jogou lado a lado com o fantástico David Robinson, pivô do Dream Team nas Olimpíadas de Barcelona-1992.
Hoje, Tim Duncan é o primeiro jogador da história da NBA a ganhar títulos em três décadas diferentes. O papel de Tiago Splitter também já foi desempenhado nos títulos de 2003, 2005 e 2007 por pivôs como o americano Robert Horry, dono de sete títulos da NBA, o holandês Francisco Elson, que jogou 9 temporadas na NBA e o argentino Fabricio Oberto, ala-pivô campeão olímpico em Atenas-2004.
Quantos passes precisos Kawhi Leonard, de 22 anos, não recebeu de Tiago Splitter para ser eleito o “jogador mais valioso” das finais? Quantos adversários o brasileiro não bloqueou para as penetrações do americano no garrafão? O catarinense com cara de alemão hoje faz parte da incrível história de um time multinacional que impôs seu domínio contra os donos da bola de basquete, os americanos. Um armador francês, outro australiano, um ala argentino, um italiano, jogadores de 9 nacionalidades diferentes. 15 de junho de 2014 foi o dia em que a bandeira brasileira se fez notar no pódio da NBA pela primeira vez, nos ombros largos do gigante Tiago Splitter.