Boston lembra terrorismo e promete maratona histórica
Marcos Peres
Uma procissão de milhares de pessoas percorreu a Boylston Street, na região central da cidade de Boston, nessa terça-feira, em homenagem às vítimas dos atentados terroristas que mataram três espectadores e feriram 260 pessoas há exatamente um ano, na tradicional Maratona de Boston. Entre as pessoas que caminharam até a linha de chegada estavam sobreviventes das duas explosões, familiares das vítimas fatais e prestadores de socorro.
Às 14h49, horário no qual a primeira bomba explodiu, no dia 15 de abril de 2013, os sinos das igrejas de Boston badalaram, simbolizando o luto da cidade de Boston e a sua renovação. Na próxima segunda-feira, dia 21 de abril, a cidade promete realizar a maior e mais segura edição da história da Maratona de Boston.
Cerca de 36 mil corredores se inscreveram, 9 mil a mais do que no ano passado. Milhares deles estão de volta depois de terem sido impedidos de terminar a maratona do ano passado. Outros milhares declararam que vão correr em solidariedade aos moradores de Boston. Um milhão de pessoas são esperadas nas ruas, ao longo do percurso, o dobro em relação a edições anteriores da maratona.
O percurso de pouco mais de 42 km passa por oito cidades da região metropolitana de Boston. Mais de 3,5 mil policiais foram destacados para cuidar da segurança no dia da prova, o dobro em relação ao ano passado. Muitos deles estarão a paisana, misturados aos espectadores. Seguranças privados também engrossarão o time de vigilantes. Haverá múltiplos pontos de revista, com detectores de metais, cães farejadores de explosivos e ainda centenas de novas câmeras de segurança.
A escritora americana Victoria Griffith, que mora a poucos quarteirões da linha de chegada, passa pelo local das explosões todos os dias para levar uma das três filhas à escola. “Leva meses até você começar a esquecer. Mas agora que está tudo montado, linha de chegada, as tendas, nesse momento está tudo bastante presente de novo,” contou ela. “Nós estamos um pouco ansiosos, porque sempre que acontece algo assim, o lugar fica mais simbólico e sempre há um perigo de que outro louco queira fazer algo”.
Victoria, que vai lançar em outubro um livro de ficção que se passa na Amazônia brasileira, contou que estava pronta para levar uma das filhas à linha de chegada no ano passado, quando ouviu a primeira explosão. “Talvez esse ano eu vá sozinha, sem minha filha”, ponderou a escritora.
Espectadores devem carregar seus pertences em plásticos translúcidos, evitando mochilas, coolers, agasalhos com bolsos e até carrinhos de bebês.
Autoridades de segurança de Nova York e Londres, duas das cidades mais alvejadas pelo terrorismo, se envolveram nas preparações para a Maratona de Boston desse ano. Apesar das medidas de segurança, as autoridades de Boston afirmaram que o caráter festivo da maratona mais antiga a ser disputada incessantemente no mundo será preservado.
“Estamos confiantes de que a experiência dos corredores e espectadores não será impactada e todos poderão aproveitar um dia festivo e familiar”, afirmou Kurt Schwartz, diretor da Agência de Gerenciamento de Emergências de Massachussetts.
A maratona de Boston é realizada na terceira segunda-feira de abril, feriado escolar em alguns estados americanos em comemoração ao Patriots Day.
“Eu quero encorajar todos a saírem de casa”, disse o superintendente da polícia do estado de Massachussetts, Timothy Alben. “É a oportunidade de mostrar a resiliência do povo americano”, acrescentou o coronel.
Em nota, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, homenageou as vítimas e agradeceu a coragem dos que ajudaram a salvar dezenas de feridos: “Hoje, nós reconhecemos a incrível coragem e liderança de tantos moradores de Boston em meio a uma tragédia indescritível”, escreveu o presidente. “E oferecemos nossa mais profunda gratidão aos corajosos bombeiros, policiais médicos, corredores e espectadores, que, em um instante, mostraram o espírito do qual Boston foi construída – perseverança, liberdade e amor.”
Jeff Bauman, que perdeu as duas pernas nas explosões e depois ajudou a polícia a identificar os suspeitos, escreveu uma carta e a enviou ao jornal Boston Herald. “Faz um ano desde as explosões em nossa maratona. Estou certo de que haverá muitos artigos escritos sobre isso, testemunhos e fotos. Não sei se tenho muito a acrescentar, a não ser por uma coisa muito importante que precisa ser dita e não estou certo de que outros dirão: Obrigado!”, escreveu Bauman. Ele continuou o texto agradecendo desde os cidadãos comuns que ajudaram no primeiro atendimento e remoção dos feridos, até as autoridades. Bombeiros, médicos, policiais, e mesmo quem enviou cartas de apoio às vítimas.
Jeff Bauman, que hoje anda com a ajuda de próteses mecânicas, e a noiva Erin Hurly estão à espera de um bebê, que vai nascer em julho.