Olimpíadas na Rússia: A delegação esquecida nos EUA
Marcos Peres
Cresce a cada dia de competições das Olimpíadas de Inverno de Sochi a decepção dos americanos com as principais estrelas da delegação dos Estados Unidos. Já teriam festejado dois tricampeões olímpicos, se o snowboarder Shaun White e o patinador Shani Davis tivessem transformado favoritismo em performance. Porém, novos heróis podem emergir de uma delegação de 230 atletas. Ao contrário do que aconteceu na última vez em que os Jogos Olímpicos foram disputados na Rússia. Os atletas americanos foram impedidos de participar das Olimpíadas de Verão de Moscou, em 1980, por uma decisão política: O boicote liderado pelo presidente dos EUA, Jimmy Carter, aos Jogos organizados pelo regime comunista da União Soviética.
Depois de treinarem duro durante anos, com todas as privações que exige a vida de um atleta de ponta, mesmo depois de passarem pelas duríssimas seletivas olímpicas americanas, 466 atletas estavam prontos para embarcar para a Rússia, quando foram chamados para uma recepção na Casa Branca, em Washington, no dia 16 de julho de 1980. Foi quando receberam a notícia que botou fim ao sonho olímpico de muitos deles. E teve grande impacto na vida de quase todos.
“Então, ouvi aquelas palavras do presidente Carter: ‘Nós não vamos’. Eu pensei que ele estivesse brincando. Nós não vamos às Olimpíadas? Eu fiquei com o coração partido por terem misturado política e esporte. Mas eles sempre misturam. Não adianta querer o contrário”, disse o ex-corredor Don Paige, que havia se classificado para os Jogos com o melhor tempo do ano de 1980 para os 800m. Ele tinha 23 anos, mas nunca mais conseguiu se classificar para as Olimpíadas.
“Até hoje, eu nunca assisti à final dos 800m das Olimpíadas de Moscou. Fiz uma promessa a mim mesmo, disse Paige em 2012 à rede de televisão CNN.
Paige faz parte de uma geração de atletas esquecida nos Estados Unidos. Em vez de medalhas olímpicas, ele receberam do Comitê Olímpico americano medalhas simbólicas, que só em 2007 foram reconhecidas como “Medalhas de Ouro do Congresso dos EUA”, a maior honraria civil do país.
O boicote foi organizado em protesto à invasão da União Soviética ao Afeganistão, em 1979. Os soviéticos visavam destituir o governo de Kabul, que praticava um socialismo ilegítimo aos olhos da URSS.
Mais de 50 nações seguiram os Estados Unidos no boicote. O Brasil não estava entre elas. Porém, o país fez questão de mandar alguns atletas também para as “Olimpíadas do Boicote”, evento organizado às pressas na cidade americana da Filadélfia para que as nações do bloco que aderiu ao boicote tivessem uma alternativa aos Jogos de Moscou.
Alguns atletas das “Olimpíadas do Boicote” conquistaram marcas melhores do que os medalhistas de ouro dos Jogos de Moscou, como o americano Renaldo Nehemiah nos 110m com barreiras.
“Eu posso perdoar, mas nunca vou me esquecer”, afirmou o americano Craig Virgin, dono do recorde mundial dos 10 mil metros em 1980, mas que nunca conquistou uma medalha olímpica.
Em 1984, foi a vez da União Soviética dar a resposta, liderando um grupo 15 de nações que boicotaram as Olimpíadas realizadas em Los Angeles, há exatos trinta anos.