Especialista em ética médica defende legalização do doping.
Marcos Peres
Julian Savulescu, professor de ética da Universidade de Oxford, no Reino Unido, acredita que esteja na hora de legalizar o doping no esporte, com o objetivo de regulá-lo melhor, segundo a publicação americana Medical Daily, dedicada a inovações científicas na área da saúde.
O professor Savulescu afirmou que os órgãos regulatórios deveriam controlar em vez de proibir as drogas usadas para melhorar o desempenho atlético.
''A proibição de tolerância zero no doping falhou'', afirmou o professor. ''É hora de tomar uma abordagem diferente'', acrescentou.
Desde Ben Johnson, em 1988, apenas 10 homens terminaram os 100m em menos de 9.8 segundos. E deles, apenas dois – incluindo o campeão mundial Usain Bolt – estão livres de alegações de doping, lembrou a Medical Daily.
Depois de testar positivo nas Olimpíadas de Seul-1988, Ben Johnson admitiu o uso de esteroides anabolizantes. Mas se justificou afirmando que o fazia para poder competir em pé de igualdade com os adversários, que também se utilizariam do mesmo expediente.
Savulescu disse que ''devemos avaliar cada substância individualmente'' e ''definir e exigir limites justos e seguros fisiologicamente.''
O especialista em ética médica defende a legalização e controle do uso de substâncias que venham a “dominar ou corromper determinado esporte, anulando a contribuição humana essencial.'' Para o professor Savulescu, drogas que auxiliam na recuperação de lesões não corrompem um esporte. E, segundo ele, não devem constar da lista de substâncias controladas.
Savulescu também rejeitou o argumento de que estrelas do esporte fornecem um mau exemplo para as crianças e amadores que imitam seus modelos, afirmando que “o doping amador – visto até mesmo entre garotas do ensino médio – já está acontecendo de forma não supervisionada''.
De acordo com o professor de ética, os testes antidoping aplicados hoje “expõe o atleta a um sistema excêntrico e arbitrário” e não necessariamente nivelam o jogo, já que os competidores enfrentam uma probabilidade de apenas 2,9 por cento de serem pegos. “As regras começam a criar mais problemas do que resolvem”, disse Savulescu. “É hora de repensar a proibição absoluta e escolher limites que são seguros e aplicáveis.''
Já os médicos Leon Creaney e Anna Vondy afirmaram acreditar que a questão seja de moralidade. Para eles, a liberação de substâncias hoje consideradas ilícitas geraria uma pressão crescente sobre os atletas para competirem usando doses cada vez maiores para melhorar o desempenho.
''Os atletas que quisessem viver uma vida saudável seriam excluídos completamente. Logo, a única competição que importaria seria aquela para desenvolver as drogas mais poderosas e os competidores entrariam em um ciclo de doses cada vez maiores para ficarem à frente dos outros''.
Nesse mundo, o esporte de elite pode retornar à era dos programas de doping patrocinados pelos Estados, como na Alemanha Oriental, na União Soviética dos anos 70 e 80, segundo os doutores Creaney e Vondy. Para eles, ''o uso de drogas para o aumento de performance iria aumentar exponencialmente e penetrar mais profundamente em nossa sociedade''.
No que diz respeito às baixas probabilidades de apanhar um atleta dopado nos dias de hoje, os médicos, especialistas em ética, dizem que os programas antidoping, hoje subfinanciados, deveriam ser reforçados e redirecionados para promover uma era do esporte livre de drogas.
Os especialistas também estão pessimistas sobre algumas previsões para o futuro do esporte, como os esforços da robótica em direção à meta de construir máquinas capazes de disputar a Copa do Mundo de futebol em 2050. ''Será que um atleta de bioengenharia será capaz de inspirar da mesma maneira (que um ser-humano)?''