Brasileiros não são mais coadjuvantes na NBA
Marcos Peres
Nene Hilario e Tiago Splitter conseguiram algo memorável na temporada 2013/2014 da NBA. Não só disputam as semifinais de conferência da principal liga de basquete do mundo. Têm destaque, reconhecimento. Enquanto o basquetebol do Brasil padece, eles são dois brasileiros titulares, infiltrados entre os atletas/artistas mais impressionantes do planeta. E têm sido fundamentais para o Sun Antonio Spurs e o Washington Wizards. O time de Nene venceu nessa segunda a primeira partida da série melhor de sete jogos, contra o Indiana Pacers. O Spurs, de Splitter, estréia na noite dessa terça-feira, contra o Portland Trail Brazers.
Nene e Splitter desempenham funções distintas – na seleção brasileira, seriam complementares. Apesar de contar com os mesmos 2,11m de altura, Splitter não tem o porte físico de Nene, que não só arremessa bolas na cesta, mas também adversários no chão. Nene é tecnicamente mais completo. Tiago aprendeu a valorizar o que de melhor sabe fazer. É um marcador ágil e inteligente. E ajuda o ataque não só com pontos. É tenaz nos passes.
Tiago Splitter, de 29a anos, que vai disputar mais uma semifinal de conferência como titular do Spurs, a exemplo do ano passado, trabalhou muito nos últimos quatro anos para se adaptar à NBA. Tornou-se um jogador de aplicação tática impressionante, insistentemente eficaz, capaz de tirar os adversários do sério, a ponto de tomar um chute na cabeça do pivô DeJuan Blair, do Dallas Mavericks, nas quartas-de-final.
Splitter foi perfeito contra o craque alemão Dirk Nowitzki, do Mavericks. Nowitzki é um ala-pivô revolucionário. Um dos melhores arremessadores da NBA, ele carregou o time nas costas, ganhando o título da NBA em 2011. Mas não dessa vez. Nos primeiros cinco jogos das quartas desse ano, com Splitter e Nowitzki em quadra, o Spurs fez 20 pontos a mais do que o Mavericks, em 135 minutos jogados. Com Tiago Splitter no banco de reservas e Nowitzki em quadra, o Mavericks marcou 21 pontos a mais do que o Spurs em apenas 54 minutos.
Em forma, Nene Hilario, de 31 anos, tem feito o que sempre se esperou dele na NBA: “Todos os intangíveis”, classificou o técnico do Wizards, Randy Wittman. “Ele pode marcar pontos, pode arremessar, pode bloquear, pode passar, pode driblar, pode defender e a combinação de tudo isso. Quando ele não está lá, você não pode colocar alguém que tem tudo isso”, afirmou o treinador.
Nene tem sido capaz de jogar, em média, 35 minutos nos playoffs. Apesar de não poder contribuir durante os 48 minutos, deixou para trás as limitações físicas dos últimos anos. Pé esquerdo, joelho direito, panturrilha esquerda, tendão de Aquiles do pé direito, pé direito, joelho esquerdo. Essas foram, em ordem cronológica, as contusões que atrapalharam Nene desde que chegou ao Wizards, em 2012.
“Inteiro”, Nene foi capaz de apagar o vibrante pivô Joakim Noah, do Chicago Bulls, nas quartas-de-final da conferência leste. Chegou a marcar, ainda, 24 pontos, com 8 rebotes e 3 assistências no primeiro jogo. E foi consistente pela primeira vez em vários anos. Foi a primeira vez que o time de Washington avançou nos playoffs em nove anos. E Nene foi o principal personagem dessa conquista.
Nene jogou 32 minutos da primeira partida da série semifinal, contra o Indiana Pacers. Fez 15 pontos na vitória do Wizards por 102 a 96. Pegou seis rebotes e somou dois bloqueios.
Nene e Splitter podem até fazer uma “final brasileira” esse ano. Porém, o mais significativo, já conquistaram: Assim como Ânderson Varejão, do Cleveland Cavaliers, os pivôs brasileiros deixaram os dias de coadjuvantes da NBA para trás.