De derrotado a campeão do Super Bowl: técnico Pete Carroll
Marcos Peres
Espiando entre as dezenas de câmeras que o cercavam, depois que se tornou campeão do Super Bowl pela primeira vez, o técnico Pete Carroll procurava pelos seus jogadores. Queria abraçar, beijar e parabenizar quantos atletas pudesse encontrar em meio à confusão que tomou conta do campo do MetLife Stadium ao final do jogo. O homem que um dia foi rotulado de ''bonzinho demais para comandar um time de brutamontes'' teve como seu primeiro ato, depois de receber nas mãos o troféu mais cobiçado dos Estados Unidos, a atitude de aponta-lo e oferecê-lo aos jogadores do Seattle Seahawks, responsáveis pela vitoria mais impressionante dos últimos anos em uma final do campeonato nacional de futebol americano.
O esporte que estampou o técnico Pete Carroll de derrotado, na década de 1990, o aplaudiu de pé nesse domingo, depois da vitória por 43 a 8 em cima do Denver Broncos. Demitido de dois dos maiores times da liga, o New York Jets e o New England Patriots, Carroll decidiu deixar a NFL em 1999 e reconstruir a carreira no futebol americano universitário.
Pete Carroll passou nove anos afastado da NFL. Durante esse período, conquistou dois títulos nacionais pela Universidade do Sul da Califórnia. Lá, desenvolveu competência para formar campeões. Nenhum dos jogadores do Seattle Seahawks havia jogado um Super Bowl antes de ser campeão nesse domingo. Com apenas 25 anos de idade, Russell Wilson se tornou o terceiro quarterback mais jovem da história a conquistar o troféu Vince Lombardi.
Um arranhão de mais de três centímetros na bochecha esquerda de Pete Carroll, revelado pelas câmeras durante a transmissão do Super Bowl, era a prova de que o treinador gosta de dar o exemplo. Depois da vitória, o técnico contou que se meteu entre os grandalhões no último treino antes da final, para devolver um chute. E os jogadores estavam tão motivados, que lhe deram uma pancada no rosto. Detalhe: Pete Carroll tem 62 anos de idade! ''Eu entrei para dar um descanso a Percy Harvin, procurando fazer a coisa certa. Então, Derrick Coleman me agarra e Chris Maragos vem e me dá uma pancada na cabeça'', relatou Carroll à Fox Sports americana. ''Mas, como nós cobrimos os chutes como selvagens no jogo dessa noite, tudo bem. Se contribuí para isso de alguma forma, aceito a pancada'', se divertiu o treinador.
Carroll retornou à NFL em 2010, a convite do próprio Seattle Seahawks. Trabalhou na construção do time que viria a ser o campeão desse ano durante quatro temporadas. Teve coragem para implantar um sistema que lembra a velha escola do futebol americano, baseado na defesa. E a forma com que dominou o Super Bowl 2014 de fato lembrou os campeonatos dos anos 1970 ou 80, quando placares como esse 43 a 8 eram comuns nas finais.
Melhor defesa da temporada, o Seahawks anulou a estrela antecipada do Super Bowl, Peyton Manning, um dos melhores quarterbacks da atualidade, responsável por lançar as bolas para os atacantes do Denver Broncos. Durante três dos quatro períodos do jogo, o time de Carroll não permitiu ao Broncos um ponto sequer.
Coincidentemente, Pete Carroll se sagrou campeão da NFL no mesmo estádio onde viveu a primeira experiência como treinador profissional, há 19 anos. Que acabou com uma demissão sumária dentro de poucos meses, executada pelo então octogenário Leon Hess, bilionário da área do petróleo, dono do New York Jets.
Além de ser festejado por dezenas de milhões de pessoas, no evento de maior audiencia da TV americana, Pete Carroll se tornou nesse domingo o terceiro treinador da história a ganhar os dois principais títulos do futebol americano: o profissional (NFL) e o universitário (NCAA), se juntando a Jimmy Johnson e Barry Switzer. E ainda tomou o cuidado de não diminuir as conquistas dos garotos que o ajudaram a reconstruir a carreira, na Universidade do Sula da California. “O sentimento é exatamente o mesmo”, afirmou Carroll, comparando o título profissional ao universitário.