Blog do Marcos Peres

Medalhistas olímpicos são determinados com 50 anos de atraso

Marcos Peres

Às vésperas do aniversário de 50 anos dos Jogos Olímpicos de Inverno de Innsbruck-1964, na Áustria, o telefone tocou na sala de estar da casa da ex-patinadora americana Vivian Joseph. Vivian atendeu e ouviu do interlocutor que a medalha de bronze que ela dizia ter ganho em 1964 não constava dos arquivos do Comitê Olímpico Internacional.

Apesar de Vivian Joseph, de 65 anos, guardar em casa a medalha de bronze das Olimpíadas de Innsbruck, a página do COI na internet diz que ela e seu irmão e parceiro Ronald Joseph, hoje com 69 anos, terminaram a competição em quarto lugar. Debbi Wilkes e Guy Revell, do Canadá, aparecem como legítimos ganhadores das medalhas de bronze. Mas Revell, falecido em 1981, foi enterrado com uma medalha de prata. Debbi tem outra de prata em sua casa, em Toronto.

Vivian e Ronald Joseph - Skating Magazine

Vivian e Ronald Joseph – Skating Magazine

O que aconteceu em 1964, no rink de patinação dos Jogos de Innsbruck, foi que o casal da União Soviética, formado por Ludmila Belousova e Oleg Protopopov conquistou o ouro. A prata ficou com um dos casais mais famosos da história da patinação artística, Marika Kilius e Hans-Jurgen Baumler, da Alemanha Ocidental. Porém, mais tarde, os alemães foram acusados de ser profissionais, de terem assinado contrato e patinado para o famoso show Holiday on Ice, em uma época em que o Comitê Olímpico Internacional não aceitava que atletas olímpicos recebessem dinheiro.

Marika Kilius e Hans-Jurgen Baumler devolveram as medalhas de prata em 1966. Os canadenses foram elevados para o segundo lugar e os americanos ao terceiro. Ambos os casais receberam novas medalhas em cerimônias realizadas em seus próprios países.

Porém, a pedido de dois alemães, membros do COI, o Comitê devolveu o segundo lugar aos Marika e Baumler em silêncio, em 1987, 23 anos depois da realização das Olimpíadas de Innsbruck, em uma reunião do comitê executivo da organização em Instambul, na Turquia. O casal alemão recebeu novas medalhas de prata em um programa de televisão.

Nas décadas que se seguiram, os Jesephs e os Wilkes nunca foram contatados pelo COI. Eu tenho uma filha de oito anos de idade. Eu a levo para patina, mas não falo nada sobre a minha história na patinação”, contou Ronald Joseph ao jornal The New York Times. “O que eu deveria dizer? O que vou contar às pessoas?“

Wilkes também nunca mais se sentiu à vontade. “Eu gaguejo”, ela disse. “Eu tenho uma medalha de prata, então me sinto autorizada a dizer que ganhei uma, mas me sinto um pouco como uma impostora.”

Na útima sexta-feira, o COI resolveu Canadá e a antiga Alemanha Ocidental vão dividir oficialmente a prata e os Estados Unidos não terão que devolver o bronze. “Isso é ótimo”, comemorou Vivian Joseph. “Mas aconteceu quantos anos depois? E depois de quantos livros serem impressos? Quantos anos você passa se encolhendo por causa disso?”