Crianças que treinam se machucam mais do que aquelas que brincam de esporte, segundo pesquisa.
Marcos Peres
Projetar em um filho o seu sonho de infância de ser jogador de futebol, ou mesmo apoiar o desejo de uma criança em seguir carreira no esporte, pode ter um preço alto para a saúde dos jovens atletas, se a dose de dedicação for exagerada, segundo um estudo apresentado nesse fim de semana, na Conferência Nacional da Academia Americana de Pediatria, em Orlando, Estados Unidos.
Jovens de 8 a 18 anos, que gastam o dobro de horas por semana treinando esportes organizados, em relação ao tempo que passam brincando de jogar, estão mais propensos a se machucar e mesmo ter lesões graves de esforço. Especialmente aqueles que se dedicam a um único esporte.
O estudo, batizado de “Riscos do Treinamento Especializado e Aumento das Lesões em Jovens Atletas” constatou também que jovens atletas que treinam mais horas por semana do que a própria idade – por exemplo, um garoto de 8 anos, que treina mais de 8 horas por semana – estão mais propensos a se ferir.
A pesquisa envolveu cerca de 1.2 mil crianças e adolescentes, que foram avaliados em hospitais e clínicas da cidade de Chicago. Os pesquisadores coletaram informações de cada paciente, como a intensidade e a duração dos treinamentos, o grau de especialização da criança em determinado(s) esporte(s), análises de desenvolvimento físico, altura e peso. O processo de acompanhamento foi repetido a cada seis meses, por até três anos, entre 2010 e 2012.
''Os jovens atletas que se especializaram mais intensamente em um único esporte eram mais propensos a sofrer uma lesão, até uma grave lesão de esforço'' (daquelas que impedem a criança de jogar por um período mais longo), afirmou o líder do estudo, o Dr. Neeru Jayanthi.
Dos cerca de 1200 participantes, 837 se feriram durante o período de acompanhamento. 859 lesões foram reportadas. 360 jovens permaneceram ilesos.
Os atletas lesionados apresentavam maior grau de especialização em algum esporte do que os não-lesionados.
''Descobrimos que as crianças (americanas) praticam esportes organizados em media duas vezes mais do que brincam de jogar'', disse o Dr. Jayanthi. ''Essas crianças que excedem essa relação de dois-para-um estão mais propensas a se ferir.'', afirmou o pesquisador.
''Nosso próximo objetivo é pesquisar como educar pais e crianças sobre essa relação de tempo gasto no esporte versus brincadeira e fornecer-lhes orientações mais específicas para reduzir lesões por exageros em esportes para jovens'', afirmou outra pesquisadora, A Dra. Cynthia R. LaBella.