Blog do Marcos Peres

Aos 38 anos, Hélio Castroneves pode ser campeão da Indy pela primeira vez nesse sábado.

Marcos Peres

Hélio Castroneves transcendeu alguns mitos do automobilismo. Aos 38 anos de idade, ele não precisou ser campeão da Fórmula Indy para se tornar um dos
pilotos mais famosos dos Estados Unidos no século 21. Ou mesmo para se manter no cockpit do carro de uma das principais equipes da categoria, a Penske, por 14 temporadas.

“Hélio é um piloto de muito talento, dedicado, positivo, que conseguiu alcançar um nível de sucesso como poucos pilotos no mundo”, afirmou o ex-companheiro de equipe Gil de Ferran. “Mas os americanos também conhecem bem e admiram sua personalidade extrovertida e divertida. Afinal, Helinho venceu uma competição de dança na TV com uma das maiores audiências nos Estados Unidos”, concluiu Gil.

25 milhões de pessoas assistiram à final do “Dançando com as Estrelas”, em 2007, pela rede de TV americana ABC, enquanto “apenas” cinco milhões em média acompanham a prova mais famosa da temporada da Indy, as 500 Milhas de Indianápolis, pela televisão todos os anos. Helinho não só ganhou a competição, em parceria com a dançarina profissional Julianne Hough, mas também deu uma valiosa contribuição de marketing à Fórmula Indy. “Eu chamei muito mais atenção quando participei do programa. E quem ganhou bastante com isso foi a própria categoria, que ganhou outros fãs. O show também ganhou muitos fãs.”

Castroneves e Julianne Hough – Divulgação Dancing With The Stars – ABC

Ao ser anunciado vencedor da competição de dança, Hélio Castroneves recebeu do apresentador do programa uma garrafa de leite, em referência ao sucesso do piloto em Indianápolis, onde as vitórias são comemoradas com leite no pódio em vez de champanhe. Na época, Helinho era bicampeão das lendárias 500 Milhas de Indianápolis. Nos Estados Unidos, isso é mais importante do que ser o campeão.

“Quando venci minha primeira Indianápolis, senti a diferença”, contou Hélio. “As pessoas notaram: Tem um brasileiro aí que venceu as 500 Milhas de Indianápolis, que sobe no alambrado, o apelido dele é Homem-Aranha. Por ser uma coisa espontânea, chamou a atenção. Não foi só pelo fato de eu ter vencido. Hoje, o nome Castroneves tem um reconhecimento aqui nos Estados Unidos até maior do que no Brasil.”

Homem-Aranha sobe no alambrado – heliocastroneves.com

Um estreante que venceu as 500 Milhas duas vezes consecutivas, em 2001 e 2002! E o Homem-Aranha só não voltou a subir no alambrado de Indianápolis em 2003, porque o brasileiro e companheiro de equipe Gil de Ferran estava logo a frente. Castroneves chegou em segundo lugar. “Estou há 14 anos na equipe e não vi, em relação às brigas por vitórias, um piloto receber uma ordem de deixar o outro passar (…) A Fórmula-1 tem uma política talvez não tão ética”, comparou Helinho.

O imenso sucesso rendeu a ele uma bênção do Papa João Paulo II em sessão privada no Vaticano em 2004. “Falei em português – que era uma das dezessete línguas que ele falava – que eu estava muito honrado de estar alí. Ele não disse muita coisa, mas só a presença dele, né? E agora o Papa Francisco vai santificá-lo. Pra mim, nossa, me deixa ainda mais orgulhoso de ser católico!

Mesmo o momento mais difícil da vida de Hélio teve repercussão massiva nos Estados Unidos. Foi “uma história de filme”, como ele próprio a classificou. Em 2009, o departamento de Receita americano acusou Castroneves de ter sonegado mais de $ 2,3 milhões de dólares em impostos. “Não pensei nem no pior das hipóteses (a prisão)”, disse Helinho. “O que pensei foi em não poder correr. É a única coisa que eu sei fazer. Isso, pra mim, foi o pior sentimento que podia ter. E ver também minha família, minha irmã envolvidas nisso. Mas graças à justiça, nós demos a volta por cima (Hélio foi absolvido) e vencemos mais uma vez em Indianápolis. Foi uma história de filme.”

Poucas semanas depois de deixar o tribunal cercado por jornalistas, Hélio Castroneves se tornou o primeiro estrangeiro tricampeão das 500 Milhas de Indianápolis. O único que continua em atividade na Indy.

Castroneves com a taça do tri – heliocastroneves.com

Ainda em 2009, ele quebrou outros dois recordes: o de maior número de vitórias (22) e de corridas (209) para um piloto que jamais ganhou um campeonato. Hoje já são 28 vitórias em 270 corridas, que deixaram também para trás o recorde de vitórias de um brasileiro na Indy, que pertencia ao lendário Emerson Fittipaldi (23). Mas o título ainda não veio. “Talvez seja a hora certa”, sugeriu Helinho.

Uma vitória do Homem-Aranha não basta na última prova da temporada a ser disputada nesse sábado, na cidade de Fontana, no estado da Califórnia. O brasileiro é o segundo na classificação geral, 25 pontos atrás do neozelandês bicampeão da Fórmula Indy Scott Dixon, da equipe Chip Ganassi. Depois de 16 temporadas, Hélio Castroneves tem o discurso do primeiro título pronto: “Eu nunca deixei de acreditar.”